- Oi.
-Oi.
Me dá um cigarro.
- Claro. Toma aqui.
- Obrigada.
- De nada.
Agora esta! Este babaca aqui. Deixa ele passar aqui perto
novamente. Ele vai ver só. Otário.
- Oi!
- Oi! Ué você continua aqui? (Será que uma mulher tão culta
não tinha nada melhor para perguntar?)
- Continuo. Vim dar uma passadinha e conversa vai, conversa
vem com os amigos fui ficando.
- Hum. Sei. Que você vai fazer amanhã?
- Não sei.
- Vamos fazer as pazes?
- Vamos. Mas tem que ser hoje. Vou dar o perdido nos amigos.
Vou para festa nenhuma. Vou ficar com você, linda.
Depois de tanto tempo e tantos ‘nunca mais’, nós dois de novo,
sem resistir ao olhar um do outro. Aqueles
beijos loucos, aquelas risadas, os sussurros, os toques...Parece que se
passaram apenas alguns dias e não tantos meses.
Poucas explicações. Muitos beijos. Mais beijos.
- Você voltou muito fácil, eu brinco.
- E você é louca. Perdeu tempo, ele devolve.
- Recuperei nossas fotos. Estão no celular.
E ele relembra nosso primeiro encontro. Como? Ele não era um
imbecil egoísta e, e... o que mais mesmo? Como a gente pode lembrar mais um
defeito se o cara te beija assim? Ah, era otário, um otário. Mas, esse otário
me protege com um abraço. Mas, ele também era um... um o quê mesmo que agora eu esqueci? Ai, com o
cara sorrindo, me olhando assim e dizendo que estava com saudades como é que eu
vou lembrar? Ah, sim agora me lembro: eu o odiava. Odiava mesmo. De verdade. Mas,
agora é tempo de paz. Não tem espaço para ódios e mágoas. Isso, isso, não pára.
Mas, é que o mundo vai acabar mesmo e a gente se olhou nos
olhos e os dois se desarmaram e aí, e aí...ai não sei de mais nada. Não era para
não se falar nunca mais? Quem foi que descumpriu o trato? Quem foi o primeiro
idiota que descumpriu o maldito trato? Ou seria o primeiro esperto? Ai, não
pára, não pára. Não sei como fiquei tanto tempo longe de você. Você também não?
Pensei em perguntar " porque não ligou então, seu babaca?". Mas,
não deu tempo. Perdi a fala com aquelas mãos percorrendo minhas costas, aquela
boca percorrendo com ânsia todo meu corpo, como se numa estranha língua quisesse
me dizer que estávamos na iminência de uma fusão de corpos e sentimentos.
Assim, não dá. Assim, eu não consigo raciocinar.
Desisto do raciocínio.
E de novo eu estou refletida nos seus olhos verdes. E de novo
você me abraça, me beija e eu perco a noção do tempo. Você diz que sentiu
saudades. Eu estremeço. Eu te devoro. Tu me devoras. Nós nos devoramos. O mundo
em perigo, gente em guerra, violências de todos os tipos e nós invadidos de
paz. Uma paz que chega atropelando tudo e de repente se afirma soberana e se parece com um lago
profundo, tranquilo.
De novo, eu andando nua na sua casa. De novo você me olha e sorri. De novo suas mãos estão percorrendo minha pele. E morremos de rir de nós mesmos. E esquecemos os motivos e os porquês. Simplesmente refazemos os planos e deixamos rolar.