sexta-feira, 27 de abril de 2012


A Revolução das Belas





E como sempre, com a sexta-feira, chega alguma notícia nova e minha imensa vontade de abrir um consultório. A Renata se descobriu. E veio me contar...

- Amiga descobri uma coisa. Quer dizer me descobri.

-Você é gay? Olha que por esta eu não esperava! Mas, que bom que você está dividindo isto comigo e ...
- Não é nada disso!

- Então o que é? Nesta pressa achei que fosse algo muito interessante a ser revelado, que até daria uma boa crônica, aliás ando sem inspiração...

- Na verdade descobri que no fundo, sou muito exigente.

- Aham... E só descobriu agora? Que bom.  Mas, se tivesse ligado antes eu teria dito. Espero que não tenha gastado 80% do salário com psicólogo para esta descoberta magnífica!!

- É pode ser que muita gente já soubesse. Aliás eu também já sabia só que negava. E não gastei nem um tostão. Observei apenas.

- Menos mal. E negava por quê?

- Ah, o de sempre : medo de não ser amada, não ser querida. Todos nós queremos aprovação, né?
-É verdade. Queremos ser amados e admirados e idolatrados e...

- Não, não. Calma. Querer ser idolatrado só você que é artista. Eu não. Aliás posso falar de mim?

-Sim, claro continue. E como se deu esta descoberta do século?

- Bem, depois que eu vi que nada, nem ninguém me interessava por  muito tempo fiquei prestando atenção. Aí, foquei na s pessoas com quem eu saía amigos, ficantes, namorados etc. Até  tentei um relacionamento. De uma forma ou de outra eu sempre ficava com pessoas que eu achava feias ou burras ou de um nível de entendimento inferior  apenas por achar que elas iriam me  achar o máximo  e me dar valor, que ficariam felizes em estar com alguém como eu, mas  nunca dava certo.

- A modéstia não é seu forte.

- Infelizmente, não. Mas eu fingia ser modesta, entende? Também fingia que gostava de todo mundo. E depois eu passei a não suportar mais isto. Passei a sair com pessoas  que se encaixavam em pelo menos duas ou três exigências.  Mas, ainda era pouco. E elas se tornavam um fardo pesadíssimo para mim.  Continuei apenas a sair com estas pessoas para conhecê-las e a maioria me chateava tanto que não durava um terceiro encontro.  Sabe, nem para dar uma satisfação eu conseguia falar com a pessoa. Era só por mensagem.

- Credo! Parece que você ficou meio com nojo de algumas pessoas.

- Meio não. Totalmente. Teve um cara que eu comecei muito a fim dele. Depois alguns encontros e coisas que ele disse e até gestos  passaram a me incomodar. E eu fui listando tudo. Aí minha ficha foi caindo e eu passei a detestá-lo. Hoje só o quero bem  longe assim como outras pessoas: não quero nem bem, nem mal. Só distância.

-  O que este cara tinha de tão ruim?

- Ah, meio chato falar, mas ele não tinha o status que eu gostaria. Apesar de uma situação financeira confortável. Mas , isto era o de menos.  Comecei a achá-lo bobão, sem graça, feio cheio de defeitos. E sim passei a admitir que a estética fazia diferença para mim. Antes eu ficava com vergonha de mim por não dar chance a pessoas que eu considerava feias. Ficava me forçando a ser compreensiva e legal. Eu não sou assim. Eu não sou tão desapegada.

- Nossa então você se descobriu interesseira e superficial?

- Não, nada disso. É por conta deste tipo de reação que eu ficava me escondendo.

- Desculpe. Termine o raciocínio.

- Não é isto. Eu assumi que gosto de coisas boas, lugares elegantes e viagens. Não preciso de ninguém para bancar isto para mim. Só que quem estiver comigo tem que Mem acompanhar. Outra coisa: gosto de homem bonito sim. Pra que mentir e ficar com pessoas que não me dão tesão? E acima de tudo: gosto de pessoas descoladas e com cabeça aberta, que não sejam estes imbecis  que tem hora para entrar e sair do trabalho,m e que não tem nenhuma criatividade, que tem sua vida pré determinada por conceitos e valores dos avós...Argh, isto enche o saco. Daí me vem um tédio, uma vontade de chutar o pau da barraca...

- Nossa! Realmente tinha outra pessoa dentro de você que estava bem abafada.

- É. Mas, agora eu resolvi isto.

- Como? Agora também quero soltar meu verdadeiro eu, minha sombra, meus aspectos escondidos, o ego , o Id ou sei lá como se chama isto!

- Vai rindo! Mas, mas entendo seu não-entendimento (é virei inclusive filósofa de almanaque). Fiz assim: cortei todas as pessoas que eu considerava amigas, mas no fundo eram apenas um suporte para eu poder sair e bater papo, mas que na verdade eu considerava muito chatas e bobas, dei  foras homéricos em mais de um cretino que não eram nada e se achavam a última bolacha do pacote e, por fim,  resolvi conviver com a solidão.

-Mas quem disse que você vai ficar sozinha?

-Ué se eu resolvi deixar meu nível de exigência nas alturas...

- Bem isso lá é verdade. Depois de tantas concessões que você fez...eu lembro daquele gordo horroroso e daquele velho esnobe e falido...

-Por favor não lembre disso. Eu dei pérolas ao porcos e me arrependo muitíssimo. Foi tempo perdido. Era uma fase de baixíssima auto-estima. E eu nem lembro bem da cara destes sujeitos. Foi erro. Mas eram apenas pobres coitados.

- C-a-r-a-m-b-a!!!! Tô bege. Quanto desprezo.

-  É pode ser frieza, desprezo ou maturidade. Não sei.  Só sei que nada disso me interessa mais.  A maioria das pessoas que eu conheci no passado é como se estivessem mortas. É uma coisa estranha. Como se eu tivesse acordado de um transe. E daí que tenho novidades!

- Será que eu aguento  mais coisa?

-Vamos comemorar hoje a noite? Estou de mudança! Consegui uma emprego em Nova York, em outra  agência de publicidade.?Madei  curriculum e aprovaram! Aproveitei e pedi demissão da agência que me pagava mal e ainda achava que era um favor me dar o emprego. Também cortei o cabelo.

- Amiga, que acelerada! Oba! Já tenho onde ficar em Nova York! Isso é que é chutar o pau da barraca. Gostei. Agora me deu vontade de cortar umas pessoinhas  também e assumir umas características que acho que são defeitos... Enfim, vamos logo tomar este Jack Daniels antes que você enjoe de mim também e eu perca a vaga de hóspede da sua casa.

- É isso! Você disse tudo! A palavra é enjoar. Enjoei de tudo isso. Acho que to grávida de uma vida nova!! E quem sempre se achou por cima, na verdade eu não estava nem aí. Enojei  ou enojei de muita gente. Principalmente de suas mentalidades tacanhas e sem graça que me causavam apenas tédio e sufocamento. BASTA! É a minha palavra de ordem.
    

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