quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Virou Piranha!





Sábado. 17 horas. Acordo com a Carla muito nervosa tocando a campainha.


- Que foi amiga? Tá tão nervosa. Algo grave?

- A Ludmila.

- Se matou?

- Pior. Virou piranha.

- Ah... que susto. Depois que ela terminou com o Fernando ela ficou mal. Pensei... enfim, porque você tá dizendo isso dela?

- Leona você ta aí só pensando em estudar e não fica sabendo de nada. Depois do fim do namoro ela disse que ia fazer tudo o que sempre quis e nunca pode. Disse que iria realizar as fantasias mais loucas. Ou seja, virou vagabunda.

- Duvido. A Lud nasceu em Divinópolis e foi direto Belo Horizonte. Inclusive, ela estudou comigo no Padre Eustáquio. Ela é da Tradicional Família Mineira (TFM). E você, melhor do que ninguém sabe que na TFM não tem piranha. Já ouvi dizer que tem gente assim em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre.... Até Pernambuco e Paraíba ouvi dizer que chegou esta onda. Minas, nunca. Você deve estar exagerando. Ela deve ter bebido um pouquinho a mais, falado algumas besteiras... O resto deve ser exagero seu. Desculpa.

- Ah, é? Então vou te contar o que ela fez. Senta.

“Ela saiu com outras amigas. E levou as meninas pr’ aquele restaurantezinho tipo bistrô que a gente frequenta. Bebeu todas. As garotas foram embora e ela ficou lá conversando com todo mundo e dando mole para o dono do bistrô. Aquele feinho, mas simpático. Sabe?”

- Aquele baiano moreno de quase dois metros? Sei. Aliás, Carla, você já reparou no tamanho da mão dele?

- Não vem ao caso. Ela deu em cima dele, ele fechou o bistrô, não deixou nem o povo tomar café direito. Segundo ela tinha até gente chegando e ele fechou mesmo assim. Os dois se trancaram lá dentro e ficaram fazendo ‘você sabe o quê’ na cadeira, na mesa, no balcão, no banheiro... Parece que o cara abriu um champanhe e aí diz que foi uma l-o-u-c-u-r-a... Imagina?

- Melhor não. Continua a estória.

- Bom, ela disse que ficou o tempo todo nua e de salto. E que o cara colocou uns tangos. A Ludmila contou que ele a fazia ela pegar latinhas de coca-cola na parte mais baixa da geladeira e ficava olhando ela se abaixar e andar nua para lá e para cá. Daí recomeçava tudo. Diz que ficaram nesta baixaria durante três ou quatro horas. E se passa alguém e vê? Tá entendendo a que nível chegou nossa amiga? Pirainha. Onde já se viu? Vai ficar falada. Até o pico do Itacolomy vai murchar quando ela passar. Nunca mais ela vai entrar numa igreja São Francisco. A Savassi toda ficaria escandalizada com isso. O Sion, o Alto Caiçaras, o Mangabeiras...Todos os bairros fechados para ela.

- Epa, epa, epa. Eu não quero amiga falada no Mangabeiras, não. Meu primo médico anestesista mora lá. E minha mãe contou que o segundo casamento dele está em crise e ele perguntou por mim. Estou querendo largar de rebeldia e casar com meu prometido. Agora esta coisa foi longe demais. Vou agir. Vou falar com a Ludmila.

- Isto mesmo! Vamos fazer ela parar com esta palhaçada. Nem parece moça de família. E o pior é aquele sorriso de curinga estampado no rosto. Ela nem pra disfaçar... Você sabe há quantos anos eu estou com o Maurício? Quatro anos. Quatro longos anos e o máximo que eu consigo é um sorrisinho de Mona Lisa. Quem ela pensa que é? Já teve orgasmos múltiplos e agora esta: ‘realizar fantasias’. E ainda fica rindo igual boba alegre.

- Sei, sei. Não! De jeito nenhum! Pára de chorar Carla. Vamos dar um jeito nesta louca. Que é isso liberar e ser feliz? Não, de jeito nenhum. Vamos levar inclusive a bíblia e... pára de chorar, amiga. Assim eu fico com peninha.

- Como ela teve coragem? Como ela consegue isto? Até o negão gostoso do bistrô? Ele é advogado. Largou tudo para fazer o que gosta. Bem o estilo da desvairada, cretina, vagabunda. E ainda ri! E a desavergonhada diz que conquistou o cara dois sorrisos e quinze minutos de conversa besta. Ah, não...

- Que inveja... Quero dizer que sem-vergonhice! Mas, chora aí. Coloca tudo para fora. Isso, isso, desabafa. Vou fazer um chazinho para a gente e pegar uma caixa de lenços para você, tá! Amanhã a gente vai lá e põe umas culpas na cabeça dela e pronto. Ela volta a ser uma mulher de respeito. Deixa ela sorrir por mais 24 horas. Igual o curinga é? Puxa...

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