segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Coincidência



A moda daquele inverno era cachecol no pescoço com vestido de malha. Eu aderi. Mas, sempre colocava um blaser ou casaquinho por cima. Contudo, ali diante dele sentada no chão e fumando, naquele calor, tirei o casaco.


- Sabe, não se usa “manta” com vestido. Eu vou te ensinar a te vestir...

Na hora achei que era só alguém querendo mostrar que era “descolado”. Na verdade, na verdade, eu quis dizer “Ui! Jura?” Mas, segurei. Também eu já estava com o tal casaco. Não dei importância.

Namorando há duas semanas e sendo uma pessoa pouco experiente você não acredita que seu namorado possa ser um gay enrustido. Separado e com filho... Não, não poderia ser. Isto é coisa de novela. Não poderia estar acontecendo comigo.

E a vida continua. E o sujeito vai se mostrando: preconceito com negros, com gordos, com índios, com mulheres. Preconceito é a coisa mais ridícula da humanidade. “É não dá mais!”, Admiti para mim mesma.

Entretanto, ele parecia bem interessado. Considerei de bom tom ter um pouco de tato para terminar. Um belo dia eu disse: “Homem que entende muito de roupa feminina leva maior jeito para gay”.

Ele bem assustado perguntou: eu levo jeito? Bem, jeito ele não levava. E também não entendia tanto assim de moda feminina como ele dizia (ou gostaria). Apesar de sempre querer se intrometer. Me recordo de um dia qualquer ele ter visto meu tênis novo. O cidadão já foi logo dizendo “Este tênis se usa com meias de cano curto.” É óbvio. Eu já estava com elas. Mas eu não disse nada. Fiquei pensando como ele era metido. Aliás, ele tinha um conhecimento superficial de quase tudo e queria mostrar que sabia ‘muito’ sobre tudo. Comigo não colava. Acho que isto o irritava bastante. Quando ele se deu conta que estava perguntando a minha opinião sobre livros e os textos dele, acho que ele passou a me detestar.

Mas, para mim o grande problema na época, era não saber dizer não, basta ou simplesmente ‘tchau’. E depois dele dizer não achava legal eu fumar o mesmo cigarro que ele, era para eu ter aberto a porta de saído imediatamente. No entanto, a decisão estava tomada: tudo teria fim no próximo sábado.

“Oi! Vou ter que viajar para cobrir aquela matéria. Tô te ligando para dizer que vou ficar com saudades. Quinta eu chego. Já dá para a gente se vê no final de semana.” Adia-se um término de namoro.

No outro sábado a gente se encontrou. Durante um almoço o sujeito faz umas grosserias e diz mais baboseiras. À noite brincadeiras machistas. Finjo que durmo. Não rola nada. De manhã ele toma um belo toco. Faz o tipo “Eu sou gostoso, mulher. E você se arrependerá”. Para mim era indiferente. Meses depois ele me cumprimenta numa livraria. Não sei que cara eu fiz, mas outra vez, em outra livraria ele foi mais comedido. Na terceira, eu fingi que não o vi e ele entendeu o recado.

Hoje vejo como é bom saber dizer palavrinhas como tchau, não e acreditar que pode acontecer com você também! Minha amiga namorou três anos, ficou noiva e tudo só porque não tinha coragem de dizer basta! Quase ninguém acredita nisto. Eu sim. Quase todos os relacionamentos que tive ou encontros que aceite em ir foi por pura falta de jeito de dizer NÃO!

Se fosse hoje eu diria para o cara, ô queridão, sai do armário! Ser homossexual é a coisa mais normal do mundo. Fingir ser hétero é bobeira. Mentir para você e outra pessoa é que não vale.

Mas, se eu tivesse sido um pouquinho mais esperta... gaúcho, de Pelotas... muita coincidência. Bem, é o povo que diz...

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