quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Encontros*



Tem dia que a gente pensa que só vai ali se divertir e de repente: uma explosão! Acontece um amor inesperado. O melhor de todos. É o encontro de você consigo mesmo. Adorei.Tô me amando. Muito.

Eu só queria escutar poesia e tomar um vinho. Fui. Meio com medo. Poesia já algo muito subversivo, recitada por mulher então... revira sua alma. E no último recital revirou e reconectou. Aconteceu o verdadeiro casamento do meu lado forte com o fraco, o bom com o mau, a criança com a mulher, a santa com a devassa. Tudo recomposto. Alquimia perfeita.

Enquanto a poetisa recitava coisas de um mundo desconhecido para mim, com palavras como sertão, fulô, jirau coisas que só sei de dicionário e nunca vi em toda a minha vida, senti saudades dos bisavós que não conheci. Donos de engenho de cana de açúca, lá em Pernambuco. Voltei a uma origem que nunca vivi. Só ouvi dizer. Senti até mesmo os ancestrais mulçumanos que invadiram a Espanha, os espanhóis que se misturaram com os portugueses e vieram corajosamente, vencendo o mar, dar com os costados nestas praias. Arrisco a dizer que gosto de comidas que nunca me foram apresentadas. Senti até uns gostos diferentes do vinho que eu bebia.

Em geral, eu só lembro do ramo da família de Minas. E só para zuar a TFM (Tradicional Família Mineira). Mas, ali diante daquela pequena poetisa eu a via grande, um gigante interpretando versos ao mesmo tempo tão puros e tão fortes. Sem saber ela acabou juntado os vários seres dentro de mim e me apontou um caminho. Vi que não adianta negar minha essência de artista. Minha fome de cores, melodias, movimentos, peças, filmes, músicas e palavras. Muitas palavras...

Eu comigo. Numa nova relação. Eu preenchendo meus vazios, juntando minhas pontas. EU+EU = SER FORTE. Saí de lá assim: plena. Certa de uma relação para lá de pos moderna. Comigo mesma.

*Esta crônica é dedica à poetisa Lília Diniz. Guerreira, cantadeira e escancaradora de almas!

As fulô do mandacaru
é buniteza de esperança
da chuva que vem chegano
dum povo que nunca cansa
os flamboyant em florada
é a espanhola que dança
e as jardineira tem o cheiro
dos dia que vai chover
mas nenhuma me tocou
que nem as fulô do ipê


Floramarela, de Lília Diniz

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